Estados Alternativos de Consciência
Para informações mais detalhadas sobre este tema, por favor consulte o capítulo “Estados Alternativos de Consciência” do nosso manual “Psicadélicos em Saúde Mental”.
As substâncias psicadélicas compreendem um conjunto de compostos que produzem estados de consciência que são caracterizados por profundas alterações da perceção sensorial, humor, pensamento, perceção de realidade e o sentido de Self.
Os Estados Alternativos de Consciência (EAC) induzidos pelas substâncias psicadélicas apresentam um potencial transformador, com impactos significativos na esfera pessoal e interpessoal. Estes estados podem desencadear experiências de vitalidade corporal, de maior abertura emocional e de aceitação, mas também a possibilidade de aceder a visões e memórias com importante significado pessoal. É também comum o acesso a experiências que transcendem os limites do sentido biográfico de si mesmo, percecionando uma conexão ou união universais que podem assumir um caráter místico ou de verdadeiro deslumbre, difícil de ser colocado por palavras (inefabilidade).
Contudo, as experiências psicadélicas não são exclusivamente desencadeadas pelo uso de substâncias piscotrópicas. Na verdade, estes estados têm vindo a ser explorados de várias formas desde o início da civilização humana. Inicialmente, foram associados aos rituais de cura dos povos indígenas causados pela ingestão de plantas e fungos psicadélicos, mas também através do transe induzido pela repetição de sons - como uma determinada música, palavra ou frase - ou através de certos movimentos, realizados sob estímulos sonoros.
Arnold M. Ludwig, prestigiado psiquiatra e professor universitário na University of Kentucky Medical Center, definiu os Estados Alternativos de Consciência como "qualquer estado mental, induzido por mecanismos fisiológicos, psicológicos ou farmacológicos, que pode ser reconhecido como suficientemente desviante da experiência subjetiva ou funcionamento psicológico normativo da pessoa aquando em estado vigil e alerta de consciência."
Segundo este autor, existem vários outros métodos e condições que induzem EAC:
Diminuição da estimulação exterocetiva e/ou atividade motora:
Pode ser provocada por privação sensorial, alteração no padrão de informação sensorial, exposição constante a estímulos monótonos e repetitivos ou redução drástica da atividade motora, como isolamento, privação social e sensorial prolongada em alto mar ou no deserto, hipnose de auto-estrada ou estados hipnagógicos e hipnopômpicos. Em contexto clínico, pode ser verificada após cirurgia oftalmológica bilateral, imobilização profunda após trauma físico, anestesia sensorial e paralisia motora na polineurite ou mesmo através dos antigos ventiladores de pressão negativa utilizados em doentes com polimielite.
Aumento da estimulação exterocetiva, atividade motora e/ou emoções:
Neste contexto, incluem-se os estados mentais de excitação que resultam primariamente de sobrecarga sensorial, que se podem acompanhar (ou não) de atividade física intensa. São exemplos a prática de rituais religiosos, os estados de transe xamânicos, o transe orgiástico e a prática de Ectstatic dance.
Aumento do envolvimento mental ou estado de alerta:
Representam estados mentais que resultam primariamente de um estado de hiperfoco ou hiperalerta seletivo, com resultante hipofoco periférico durante um período sustentado de tempo. Constituem exemplos a reza ferverosa, a absorção mental intensa em tarefas como leitura, escrita ou resolução de problemas, a observação prolongada de um estroboscópio ou a vigilância prolongada durante o serviço como segurança ou sentinela.
Diminuição do estado de alerta ou relaxamento de faculdades críticas:
Estados mentais resultantes do chamado "estado de mente passivo", no qual o pensamento dirigido é mínimo. Tal é verificado em estados transcendentais meditativos, através do relaxamento muscular e cognitivo profundo, estados criativos ou relevadores, estados de associação livre durante terapia psicanalítica ou também através da hipnose.
Presença de fatores somatopsicológicos:
Resultantes de alterações neurofisiológicas ou químicas, que podem ocorrer deliberadamente ou ser resultado de condições sobre as quais a pessoa tem pouco ou nenhum controlo. São exemplos a hipo/hiperglicemia, desidratação, disfunção tiroideia, disfunção adrenérgica, privação de sono, hiperventilação, narcolepsia, epilepsia e consumo ou privação de substâncias.