Set e Setting
Para informações mais detalhadas sobre este tema, por favor consulte o capítulo “Psicoterapia Assistida Por Psicadélicos” do nosso manual “Psicadélicos em Saúde Mental”.
Nos anos 1950-60 assistiu-se a um primeiro período de investigação científica utilizando substâncias psicadélicas, onde a importância do contexto foi necessariamente avaliada. Nesta época, foi popularizada a expressão set e setting, cuja origem precisa é difícil de definir. Esta expressão diz respeito às condições interna e externa em que uma experiência com substâncias psicoativas se dá, sendo que set representa um termo que se refere à disposição e às expectativas que a pessoa traz para a experiência, assim como às suas características fisiológicas, psicológicas e sociais, enquanto que o setting se refere às circunstâncias externas em que a experiência ocorre, nas quais estão incluídos o ambiente físico, mas também político, cultural e jurídico, estando unanimemente reconhecido pela comunidade científica que estas são características particularmente relevantes no caso das substâncias psicadélicas. Apesar destes termos terem sido popularizados e geralmente atribuídos a Timothy Leary, o conceito foi reconhecido e explorado por investigadores anteriores, como Al Hubbard.
De acordo com os mais elevados padrões de segurança desta era moderna em investigação científica, os ensaios clínicos têm prestado particular atenção ao set, ao ser fornecida uma extensa preparação psicológica dos doentes (muitas vezes durando várias horas e envolvendo uma série de visitas repetidas antes e depois das sessões em que se utilizam as substâncias psicadélicas), assim como ao setting, havendo manipulação do ambiente terapêutico, por exemplo, através de uma iluminação mais ténue do espaço, listas de reprodução de música cuidadosamente selecionadas ou até uma decoração esteticamente agradável, de forma a fomentar uma sensação de conforto e de segurança. Além disso, os pacientes que participam nestes ensaios modernos têm habitualmente dois profissionais de saúde mental compassivos (geralmente médicos psiquiatras e psicólogos) permanentemente disponíveis, os quais previamente preparam cuidadosamente os pacientes para as suas experiências, os apoiam durante toda a sessão e os ajudam, posteriormente, a integrar o conteúdo e significado destas experiências. Esse suporte intensivo é, de resto, incomum no contexto dos serviços convencionais de saúde mental, porém tem sido a norma nos ensaios psicadélicos modernos.
O número de fatores que afetam uma experiência psicadélica pode ser vasto, pelo que testá-los de forma independente e em combinação é um grande desafio. Contudo, atendendo a esta grande influência do set e setting, parece fundamental que mais estudos futuros sejam conduzidos para testar esta efeito na experiência psicadélica, de modo a também mitigar riscos e promover o desenvolvimento de abordagens de tratamento ideais. É, para já, indiscutivelmente estabelecido que a qualidade de uma experiência psicadélica aguda é preditiva de seus efeitos de longo prazo.