Psicoterapia Assistida Por Psicadélicos
Para informações mais detalhadas sobre este tema, por favor consulte o capítulo “Psicoterapia Assistida Por Psicadélicos” do nosso manual “Psicadélicos em Saúde Mental”.
A terapia psicadélica (também designada como psicoterapia assistida por psicadélicos, ou PAP) é um tipo de prática psiquiátrica que envolve uma combinação de terapia farmacológica e psicológica, geralmente com a administração de uma substância psicadélica como parte de um processo psicoterapêutico.
Enquanto que certas comunidades indígenas usam substâncias psicadélicas em ambientes terapêuticos e religiosos há vários séculos, a terapia psicadélica é relativamente recente em ambientes clínicos ocidentais. Este modelo terapêutico tem-se tornando mais popular com o aumento da investigação clínica nesta área, também motivada por um aumento na prevalência de doenças psiquiátricas e por um decréscimo acentuado no desenvolvimento de psicofármacos nas últimas décadas.
Neste momento, três substâncias psicadélicas encontram-se mais estudadas quanto à sua aplicabilidade clínica: psilocibina, MDMA e ketamina, sendo esta última a única substância atualmente licenciada em Portugal. Contudo, prevê-se que a partir de 2023 surjam as primeiras aprovações para o uso clínico de MDMA e psilocibina nestes contextos.
Particularidades
A psicoterapia assistida por psicadélicos distingue-se dos métodos terapêuticos convencionais por ser simultaneamente farmacológica e psicológica, mas também pela utilização de estados alternativos de consciência com potencial transformador.
Ao contrário da maioria das terapias farmacológicas que atualmente estão disponíveis no tratamento de doenças psiquiátricas, o paciente não necessita de tomar uma substância diariamente e de forma prolongada. Assim, nesta modalidade terapêutica a substância psicadélica é geralmente administrada em apenas uma ou poucas sessões, com dosagens específicas e, geralmente, resultam em experiências subjetivas imediatas que podem ser profundamente significativas, com benefícios a longo prazo.
Igualmente relevante, é o facto de esta ser uma terapia baseada numa redução dos padrões de evitamento experiencial e promoção de uma aceitação mais adaptativa que, ao ser orientada por dois terapeutas certificados, permite alcançar mudanças significativas de padrões psicológicos negativos e profundamente enraizados, fomentadas por sessões de integração estruturadas de acordo com a experiência psicadélica do individuo.
Como funciona?
Após uma adequada avaliação médica para explorar a potencial elegibilidade dos pacientes para este tipo de tratamentos e de forma a serem excluídas eventuais contraindicações, geralmente são cumpridas três fases principais e universalmente estabelecidas deste tipo de terapias:
- Preparação;
- Experiência psicadélica aguda;
- Integração.
A preparação corresponde a uma fase inicial onde os pacientes participam em sessões de psicoterapia com terapeutas devidamente certificados, que estarão também presentes durante a sessão de administração da substância psicadélica. Uma aliança terapêutica é aqui desenvolvida e fomentada durante esse período, sendo exploradas as motivações e expetativas do indivíduo. Durante esta fase são também habitualmente promovidas algumas modificações comportamentais.
Relativamente à experiencia psicadélica aguda, atualmente o formato que tem vindo a ser mais utilizado e investigado é o da realização destas terapias de forma individual, sobretudo segundo uma de duas modalidades: na terapia imersiva, o indivíduo, acompanhado por dois terapeutas, encontra-se imerso na sua experiência interna, facilitada pelo uso de vendas nos olhos e uma seleção musical, existindo escasso contacto com os terapeutas, estando estes disponíveis para assistência e orientação se necessário, ouvindo e respondendo ao paciente quando ele fala, com pouca análise do material que vai emergindo; na terapia psicolítica, a qual utiliza habitualmente doses mais baixas das substâncias, o indivíduo mantém-se em relação com os terapeutas, apresentando um estado de consciência que dissolve resistências e facilita o contacto com conteúdos difíceis e com novos entendimentos sobre a própria vida.
Imediatamente após a sessão com administração da substância psicadélica e nos dias seguintes, um processo de integração é facilitado pelos terapeutas. Durante essas sessões de psicoterapia, o paciente tem a oportunidade de processar, dar sentido e dar uma expressão significativa à sua experiência psicadélica. É este processo que permite transpor as experiências transformadoras em mudanças positivas, concretas e duradouras na vida do indivíduo.
Outros elementos desta abordagem são essenciais para eficácia e segurança destas terapias, nomeadamente os cuidados a ter relativamente ao Set e o Setting.
Consulte a secção “Set e Setting” para saber mais.
As diferentes substâncias psicadélicas apresentam perfis farmacológicos específicos, mas geralmente partilham alguns mecanismos neurobiológicos comuns que facilitam a flexibilidade, a aprendizagem e a criação de novas ligações neuronais.
Consulte a secção “Substâncias Psicadélicas” para saber mais.
Segurança e tolerabilidade
Investigação científica relativa a terapias psicadélicas tem vindo a apresentar resultados clínicos robustos, tendo vindo a ser descritos como tratamentos fisiologicamente muito seguros quando utilizados em ambientes clinicamente controlados, não havendo qualquer evidência científica relativamente ao potencial aditivo destas substâncias.
Enquanto que as substâncias psicadélicas clássicas apresentam riscos insignificantes de toxicidade orgânica, os riscos psicológicos precisam ser melhor compreendidos e mitigados. Até ao momento, a grande maioria dos ensaios clínicos têm incluído participantes assentes em critérios de inclusão algo restritivos de forma a reforçar estes padrões de segurança. No entanto, de forma a difundir este tipo de terapias a uma proporção mais ampla da população, é necessária mais investigação para entender os riscos psicológicos e como manter os níveis atualmente baixos de eventos adversos em indivíduos com eventuais comorbilidades.
Consulte a secção “Substâncias Psicadélicas” e “Investigação Científica” para saber mais.
Aplicações clínicas
Na última década, vários estudos têm demonstrado eficácia terapêutica da psicoterapia assistida por psicadélicos em várias patologias psiquiátricas, entre as quais se destacam a Depressão Major e Depressão Resistente ao Tratamento, Perturbação de Stress Pós-Traumático, Perturbações de Ansiedade e Perturbação do Uso de Substâncias.
Consulte a secção “Substâncias Psicadélicas” e “Investigação Científica” para saber mais.