Ketamina IV passa a reunir evidência de Nível 1 no tratamento da Depressão, segundo as novas guidelines da CANMAT
21 de maio de 2024 • 3 minutos de leitura
- Pedro Mota
- Ketamina
- Psiquiatria
Foi publicada no presente mês de maio a atualização mais recente das guidelines internacionais de tratamento para a Depressão da Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT). As guidelines CANMAT para depressão são as mais amplamente utilizadas por psiquiatras em todo o mundo. A nova versão integra a mais recente evidência científica e os avanços no tratamento da depressão desde que as guidelines anteriores foram publicadas, em 2016.
Os autores referem que “(…) estas recomendações não representam apenas a evidência científica e o amplo consenso dos principais especialistas em investigação e tratamento da depressão, mas, mais importante ainda, refletem também as perspetivas dos pacientes com experiência vivida de depressão”.
Para desenvolver estas novas guidelines, o grupo de trabalho conduziu uma revisão abrangente da literatura publicada desde a anterior edição de 2016. As recomendações resultantes estão organizadas por linhas de tratamento com base no nível de evidência que apoia cada tratamento e em fatores como segurança, tolerabilidade e viabilidade. São, ainda, fornecidas orientações para ajudar os profissionais de saúde mental na escolha da opção de tratamento mais correta, com ênfase na tomada de decisão colaborativa.
“A depressão é uma condição complexa e altamente individualizada”, referiu um dos autores das guidelines, Dr. Lam. “As guidelines destacam a importância de colaborar com os pacientes nas decisões de tratamento e de fornecer uma abordagem de tratamento personalizada que considere cuidadosamente as necessidades, preferências e histórico de intervenções de cada pessoa”.
Já segundo o Dr. Joshua D. Rosenblat, médico psiquiatra da Universidade de Toronto e um dos autores destas recomendações, a ketamina intravenosa, em doses entre 0,5-1,0 mg/kg (reconhecidas na literatura como promotoras de efeitos psicadélicos), integra agora a segunda linha da abordagem farmacológica da Depressão que não respondeu eficazmente a um tratamento com antidepressivo, após ter sido considerada como um “tratamento experimental” na versão anterior destas guidelines (2016) – “Com um aumento massivo da evidência (mais de 40 ensaios clínicos randomizados controlados), a ketamina intravenosa passa a reunir Nível 1 de evidência”.
Desta forma, após a falência do tratamento com antidepressivo e de estratégias de aumento recorrendo ao aripiprazol, a ketamina intravenosa afigura-se como uma das opções seguintes a considerar, a par de outros tratamentos igualmente estabelecidos com o Nível 1 de evidência como o lítio, quetiapina ou esketamina intranasal.
Pela evidência mais limitada no que diz respeito a outras vias de administração, já o uso de ketamina por via intramuscular ou subcutânea, são consideradas como 3º linha de tratamento.
Estas guidelines contemplam ainda a “Psicoterapia Assistida por Psicadélicos” (doses moderadas a altas de psilocibina acompanhadas por psicoterapia) como um tratamento com resultados preliminares promissores. A necessidade de investigação clínica mais robusta atendendo às limitações metodológicas encontradas na maioria dos ensaios clínicos analisados, coloca este tratamento como uma área de investigação clínica a priorizar ao longo dos próximos anos.
As novas guidelines podem ser consultadas AQUI.
Pedro Mota
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