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O uso de psicadélicos clássicos em contextos terapêuticos: oportunidades e desafios em Políticas de Saúde

Revisão Narrativa

5 de março de 2021, Risk Management and Healthcare Policy

Autores: Rafael Guimarães dos Santos, José Carlos Bouso, Juliana Mendes Rocha, Giordano Novak Rossi, Jaime E Hallak

Os psicadélicos serotoninérgicos são um grupo de substâncias que compartilham o agonismo dos receptores serotoninérgicos 5-HT2A como principal mecanismo de ação. Os seus principais efeitos incluem mudanças na percepção, no processo cognitivo e no humor. Apesar de serem utilizadas há séculos por diferentes culturas em contextos rituais, estas substâncias têm despertado atualmente o interesse da ciência e da indústria pelos seus promissores efeitos antidepressivos, ansiolíticos e anti-aditivos.

Considerando essas evidências, este artigo visa explorar alguns dos possíveis desafios em Políticas de Saúde para integrar essas ferramentas terapêuticas em sistemas de saúde amplos e heterogéneos. Como principal benefício, estas substâncias produzem efeitos rápidos e duradouros com a administração de doses únicas ou poucas administrações, o que pode levar a novas possibilidades de tratamento para pacientes com perturbações psiquiátricas graves resistentes às terapias usuais.

O principal desafio está associado ao fato de estas serem substâncias que permanecem proibidas na maioria dos países e associadas ao estigma social relacionado ao seu uso recreativo (especialmente LSD e psilocibina). Esta situação torna extremamente difícil a realização de ensaios clínicos, embora as convenções internacionais permitam tal investigação. Eticamente, tal pode ser interpretado como uma violação dos direitos humanos, uma vez que milhares de pessoas são impedidas de ter acesso aos seus possíveis benefícios. Curiosamente, o uso ritual da Ayahuasca é mais aceitável para o público do que o uso de cogumelos contendo psilocibina ou LSD.

O uso clínico controlado de LSD e psilocibina parece ser menos criticado e tem vindo a ser explorado pela indústria. Rigorosas evidências científicas aliadas aos interesses industriais (LSD e psilocibina), ao respeito aos usos tradicionais (Ayahuasca) e convenções internacionais, parecem ser o melhor caminho para que estes medicamentos sejam integrados nos sistemas de saúde nos próximos anos, o que destaca a necessidade de um diálogo urgente entre ciência, sistemas de saúde, sociedade e política.




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