Uma dose única (10 mg) de psilocibina reduz sintomas em adultos com perturbação obsessivo-compulsiva: Estudo de desafio farmacológico
6 de julho de 2025, Comprehensive Psychiatry
Autores: Luca Pellegrini, Naomi A. Fineberg, Sorcha O'Connor, Ana Maria Frota Lisboa Pereira De Souza, Kate Godfrey, Sara Reed, Joseph Peill, Mairead Healy, Cyrus Rohani-Shukla, Hakjun Lee, Robin Carhart-Harris, Trevor W. Robbins, David Nutt, David Erritzoe
A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) é uma condição comum e incapacitante. Uma proporção significativa de doentes não responde ao tratamento de primeira linha com inibidores da recaptação da serotonina, sejam estes inibidores seletivos (ISRS) ou clomipramina. Evidência preliminar sugere que a psilocibina, um agonista dos recetores serotoninérgicos, poderá ter eficácia clínica nesta população. Os autores conduziram um estudo de desafio farmacológico para investigar a eficácia e os mecanismos de ação da psilocibina na POC. Esta análise apresenta exclusivamente os resultados clínicos.
Métodos
Participantes com diagnóstico de POC de gravidade pelo menos moderada receberam duas doses únicas orais de psilocibina, 1 mg seguida de 10 mg, administradas por ordem fixa com um intervalo de 4 semanas. No dia da administração, os participantes foram acompanhados num regime de hospital de dia por clínicos com experiência no uso de psicadélicos no tratamento de perturbações mentais. Foi fornecido suporte psicológico antes, durante e após a administração. Participantes e avaliadores estavam cegados quanto à ordem das doses. As avaliações ocorreram no dia anterior a cada dose (linhas de base 1 e 2), no dia da administração e em vários momentos ao longo das 4 semanas seguintes, utilizando a escala Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (Y-BOCS) como medida principal de resultado clínico, e a Montgomery-Åsberg Depression Rating Scale (MADRS) como medida secundária. Efeitos adversos foram igualmente registados.
Resultados
Dezanove participantes adultos (20–60 anos) iniciaram o estudo e 18 completaram todas as avaliações. Os resultados clínicos após as doses de 1 mg e 10 mg de psilocibina foram comparados através de modelos lineares de efeitos mistos e ANOVA. Observou-se um efeito significativo entre doses, favorável à dose de 10 mg, uma semana após a administração, na Y-BOCS (d de Cohen = 0.82, p = 0.002). O efeito foi particularmente significativo na subescala de compulsões (d = 0.74, p = 0.003), sendo mais modesto na subescala de obsessões (d = 0.50, p = 0.06). Este efeito diminuiu progressivamente nas 3 semanas seguintes. Não se observaram efeitos significativos da psilocibina na MADRS. A psilocibina foi bem tolerada, com poucos eventos adversos relatados em ambas as doses e sem ocorrência de eventos adversos graves.
Conclusões
Este estudo, limitado por um tamanho amostral reduzido e pela ausência de randomização, demonstrou que uma dose oral de 10 mg de psilocibina foi bem tolerada e potencialmente eficaz em doentes com POC. A psilocibina produziu um efeito de início rápido, com magnitude moderada a elevada nos sintomas compulsivos, persistindo até uma semana após a administração. São indicados ensaios clínicos futuros, randomizados e controlados por placebo, para investigar regimes de administração prolongada com múltiplas doses semanais de 10 mg de psilocibina.
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