Porque é que as pessoas veem Elfos e outras “entidades” quando fumam DMT?
13 de dezembro de 2022 • 4 minutos de leitura
- Patrícia Marta
- DMT
Quando se fuma uma substância psicadélica poderosa, geralmente espera-se ver algumas coisas bastante bizarras, mas uma substância em particular ganhou a reputação de porta de entrada para um reino estranho povoado por misteriosas “entidades”. Conhecida como DMT, esta molécula que altera a mente provoca regularmente encontros realistas com seres de outro mundo, incluindo os famosamente descritos pelo etnobotânico Terrence McKenna como “elfos mecânicos auto-transformadores”.
Dadas as entidades de DMT surpreendentemente semelhantes relatadas por pessoas não conectadas de todo o mundo, os cientistas estão agora a tentar perceber mais sobre a natureza destas personagens psicadélicas e o que causa esta experiência estranhamente comum. Entre os que lideram a investigação está o Dr. David Luke, professor associado de Psicologia na Universidade de Greenwich e autor de um novo livro sobre encontros com entidades sob DMT.
“Os encontros são muito comuns”, disse à IFLScience, acrescentando que “é mais frequente tê-los do que não tê-los, com uma dose elevada de DMT”. Relativamente à natureza destas entidades, Luke explica que “existe um amplo grau de diversidade, mas também há alguns temas recorrentes que tendem a aparecer mais do que pareceria puramente aleatório. Entre os mais comuns estão ‘pessoas pequenas’, sejam elfos, anões ou duendes”.
Isso não quer dizer que toda a gente fique a conhecer estas criaturas diminutas quando fuma a substância. Também incluídas no elenco de personagens convocadas pela DMT, estão os “louva-a-deus gigantes” que são tipicamente experienciados “a inclinarem-se sobre a pessoa e a fazerem alguma operação estranha no seu cérebro”.
“Os louva-a-deus são quase sempre desprovidos de qualquer emoção e por vezes as pessoas sentem que eles as estão a explorar pelas suas emoções”, refere Luke.
Apesar de isto poder soar como um cenário de pesadelo, um **estudo **recente da co-autoria de Luke descobriu que as pessoas mais frequentemente descrevem estas entidades como “benevolentes”, com apenas 8% a perceberem-nas como “maliciosas”. Um estudo maior conduzido na Universidade Johns Hopkins produziu resultados semelhantes, revelando que 78% encontrou entidades “benevolentes” enquanto que 70% descreveu estes seres como “sagrados”.
Dos 2561 utilizadores de DMT questionados pela equipa do Johns Hopkins, 65% disseram que o seu encontro os encheu de “alegria”, enquanto 63% experienciou uma sensação de “confiança” e 59% chegaram ao ponto de descrever a sua experiência como “amor”. Emoções negativas como tristeza, nojo e raiva, por sua vez, foram relatadas por uma pequena minoria de entrevistados.
Muitos afirmaram ter recebido mensagens dessas entidades sobre a natureza da realidade, enquanto outros obtiveram insights mais banais – incluindo uma pessoa que recebeu instruções sobre as regras do futebol. “No geral, as pessoas normalmente têm encontros significativos”, conta Luke. “Mesmo que não haja uma mensagem específica, há uma sensação de profundidade.”
“As experiências com DMT podem traduzir-se fortemente em mudanças metafísicas e teológicas”, continua. De facto, mais de metade dos entrevistados do estudo Johns Hopkins que se identificavam como ateus antes do encontro já não afirmavam ser assim depois. Por mais inacreditável que tudo isto possa soar, 81% dos inquiridos referiram que o seu encontro pareceu “mais real” do que tudo o que alguma vez tinham experienciado previamente, com dois-terços a continuarem a acreditar na existência destas entidades mesmo após os efeitos da droga terem cessado.
Então o que está a acontecer aqui? Será que a DMT poderá ser realmente algum tipo de linha direta para um cabaré de entidades de outra dimensão, ou serão estas experiências meramente o produto de uma atividade cerebral aberrante?
“Uma explicação é que a DMT estimula regiões do cérebro que dão origem tanto ao aspeto visual de um ser como também à experiência de presença sentida”, explica Luke. “No entanto, na minha pesquisa, deparei-me com pessoas que têm afantasia, o que significa que não têm imagens mentais visuais. Quando têm experiências com DMT, não vêem nada, e ainda assim têm encontros com entidades, pelo que o aspeto visual nem sequer é necessário para se ter estas experiências de encontro”.
Embora seja desnecessário dizer que estes encontros induzidos por drogas são sustentados pela neurobiologia, Luke afirma que é muito difícil explicar certas experiências altamente típicas, como ter as emoções colhidas por um louva-a-deus gigante. “Existe alguma região específica do cérebro que, por qualquer motivo, está programada para produzir esses tipos de experiências?”, questiona. “Não me parece. É demasiado específico para se encaixar neste modelo genérico de ativação cerebral.”
Uma série de explicações alternativas foi apresentada, variando do psicológico até ao místico. Em última análise, porém, Luke revela que “nenhuma destas explicações é satisfatória por vários motivos” e que é melhor “manter uma mente aberta” quanto à natureza e origem das entidades de DMT.
Artigo Original de Ben Taub, publicada na IFL Science a 14/01/2022.
Imagem por Gorbash Varvara/Shutterstock.com
Tradução livre por Patrícia Marta
Patrícia Marta
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